quinta-feira, 20 de março de 2008

TEXTOS PARA O ENCONTRO IV

Caros, os textos principais para o próximo encontro são estes, abaixo(incluindo o próprio State of the News Media), do blog do Carlos Castilho, do Observatório da Imprensa, por analisar o State of the News Media de 2008. Incluí alguns comentários dos leitores, para termos uma espécie de "pulso" de como tais notícias são recebidas pelo público interessado no tema.

Abçs, boa Páscoa e até quarta.
Vinicius
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TEXTO I

Estado da Imprensa 2008 aponta recuo do jornalismo cidadão e mudança acelerada na função dos jornais
Postado por Carlos Castilho em 17/3/2008 às 10:44:47 PM


O relatório 2008 do State of the News Media (Estado da Imprensa 2008) divulgado hoje (17/3) nos Estados Unidos constatou uma desaceleração no crescimento do chamado jornalismo cidadão contrariando as expectativas surgidas em 2007.

O documento produzido pelo Projeto pela Excelência no Jornalismo além de identificar um arrefecimento na produção de conteúdos informativos por internautas afirma que os há uma tendência entre os weblogs e páginas informativas independentes de assimilar os mesmos vícios e rotinas do jornalismo profissional. Entre estes erros, o texto destaca uma tendência a limitar a participação de leitores.

Em compensação, o informe destaca o aprofundamento de mudanças qualitativas no conceito de notícia e na funcionalidade dos veículos de comunicação em massa. A notícia está deixando de ser um produto para tornar-se um serviço ao mesmo tempo em que os jornais, revistas, emissoras de radio e TV, bem como os próprios sites de notícias na Web estão rapidamente deixando de ser destinos finais para ganharem características de escalas na busca de informações pelos internautas.

Estas são as conclusões mais destacadas do Estado da Imprensa 2008, que publica também uma pesquisa entre jornalistas norte-americanos na qual eles se mostram muito pessimistas sobre o futuro da sua profissão. Seis em cada dez profissionais entrevistados acreditam que o jornalismo norte-americano está indo na direção errada.

Se por um lado, o documento afirma que houve um superdimensionamento da evolução imediata do chamado jornalismo cidadão, por outro ele mostra que a mídia convencional corre cada vez mais riscos de ser atropelada pelas mudanças no modelo de negócios da imprensa. As empresas se mostram demasiado lentas no reconhecimento de mudanças na natureza da atividade informativa.

Mas enquanto os executivos batem cabeça na busca de alternativas para a crise gerada pelo descolamento entre publicidade e audiências, as redações se transformaram no ambiente mais dinâmico e criativo dos veículos de comunicação jornalística. Segundo o State of the Media News 2008, a maioria das redações norte-americanas testa, em maior ou menor escala, o uso de recursos multimídia na produção de conteúdos jornalísticos.

Outra conclusão do estudo coordenado por Amy Mitchell e Tom Rosenstiel constata que a produção jornalística, em vez de tornar-se mais diversificada por conta da sobre oferta informativa, está na verdade encolhendo e se concentrando numa agenda comum à maioria dos veículos. Cada vez mais os veículos publicam as mesmas informações usando as mesmas fontes.
O relatório é uma fotografia do jornalismo norte-americano nos 12 meses anteriores à sua publicação e os próprios autores admitem que a ecologia informativa contemporânea está sujeita a mudanças constantes. Ou seja, as constatações feitas em 2008 podem não se repetir em 2009.
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COMENTÁRIOS - TEXTO I

Fábio de Oliveira Ribeiro, advogado (Osasco/SP)
Enviado em 19/3/2008 às 2:54:23 PM

Durante muito tempo jornalismo de massa e autoritarismo político foram pares siameses. Por intermédio da imprensa o discurso politicamente correto e a agenda pública das nações foram criadas e difundidas à revelia dos cidadãos contribuintes. Penso que isto tenha ocorrido com ou sem a censura ou controle direto da mídia pelo Estado (ou seja, o totalitarismo nazifascista apenas e tão somente exacerbou uma caracteristica da chamada ´democracia ocidental´, que em razão de suas caracteristicas é na verdade é um ´liberalismo oligárquico´ envergonhado que utiliza o vocábulo ´democracia´ para definir-se a sí próprio). Penso, porque a natureza me conferiu esta maldita condição de ser pensante, que um dos bastiões do autoritatismo político foi invadido quando a notícia deixou de ser um monopólio dos jornalistas. Com ou sem a aprovação e mesmo diante da reação dos donos dos fatos, a Internet renovou a arena pública. Mas resta uma cidadela a ser demolida. A que permite o monopólio do Estado pelos partidos políticos (ou quadrilhas oficiais como gosto de dizer). Quando o Estado deixar de atender prioritariamente os interesses daqueles que se acham seus donos (mas que são apenas o peso que os contribuintes carregam em suas costas) a luta por mais democracia terá findado. Mas até o novo espaço público ser construído a artilharia virtual continuará disparando.


j batista, func publ (sampa/SP)
Enviado em 19/3/2008 às 8:23:31 AM

Liberdade de imprensa x credibilidade:Os descréditos dos meios de comunicação decorre da própria falta de zelo ou observância da ética, moral e bons costumes, valores estes, vigentes na grande maioria da sociedade, base dessa sociedade. A divulgação e manipulação de matérias controvertidas, leva ao induzimento daqueles de pouco conhecimento a conclusões equivocadas.Na inauguração da RecordNews,Edir Macedo não perdeu a oportunidade de mais um ato de discórdia, dizendo que era a vitória de Davi contra Golias, referindo-se a Globo.A propagação da intolerância religiosa pela “Record” culminando na divulgação do chute do pastor na imagem de Nossa Senhora Aparecida, bem como induzindo “fieis”não esclarecidos de que os católicos adoram imagem, sendo que aqueles que tem fé, sabe que a demonstração da fé transcende a mera imagem de barro, assim como é a foto de um ente querido.
Guga Kuerten, Curioso (Sampa/SP)
Enviado em 18/3/2008 às 3:19:23 PM

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TEXTO II

Relatório aponta aumento na resistência dos blogs aos comentários de leitores


Esta é talvez a mais controvertida de todas as constatações feitas pelos autores da versão 2008 do relatório O Estado da Mídia Jornalística (The State of the News Media), produzido pelo Projeto Excelência no Jornalismo.

Segundo Tom Rosenstiel, o diretor responsável pelo projeto, o número de weblogs que passaram a adotar o sistema de monitoramento de comentários de leitores aumentou em 2008, em relação a 2007 e todos os anos anteriores. O relatório afirma também que a resistência aos comentários críticos é maior nos blogs independentes do que nas páginas web de jornais impressos.

Embora o estudo não tenha se aprofundado nas causas do fenômeno, o acelerado aumento do número de comentários postados em weblogs indica uma mudança radical nos hábitos informativos da maioria dos internautas, tanto no exterior como aqui no Brasil.

Os leitores tornaram-se proativos e já não se conformam em ser consumidores passivos de notícias. Junto com a maior participação e colaboração, cresceu também a presença dos contestadores, vândalos, provocadores e xenófobos de todos os tipos.

O relacionamento entre autores de blogs e o público tornou-se tenso. Freqüentemente as discussões enveredam para o bate-boca estéril, e não raras vezes escapam do controle do responsável pelo blog ou fórum de debates.

Trata-se de um desafio inédito para os autores de blogs cuja experiência de relacionamento com o público, até agora, era basicamente unidirecional e vertical. Os problemas mostram que o novo protagonismo do leitor exige que os autores assumam também o papel de moderadores, ou seja, preocupem-se mais em garantir o espaço para o debate e menos em determinar o rumo da discussão.

O fato de nós blogueiros abrirmos espaços para comentários, de alguma forma acaba por nos levar a perder parte do controle sobre o que escrevemos. Isto também é uma situação nova, que exige um conjunto de habilidades que não são ensinadas na faculdade e nem constam dos manuais de weblogs.

Às vezes é preciso muita diplomacia, tolerância e sensibilidade para lidar com comentários agressivos ou grosseiros. Além disso, muitos dos comentaristas cobram posicionamentos tipo bom ou mau, branco ou preto, quando a situação é muito mais complexa.

Não é difícil entender por que há uma tendência ao aumento do monitoramento prévio dos comentários, antes da publicação, principalmente nos blogs que lidam com política e imprensa. A pressão do público é grande, tende a crescer e nem sempre ela segue parâmetros civilizados.

O mesmo dilema afeta também os sites de jornais que publicam comentários de leitores. A maioria exerce algum tipo de controle, especialmente sobre os comentários anônimos, mas admite que a alternativa está longe de ser eficiente, como alega Jonathan Landman, do New York Times.

Alguns excessos podem ser evitados, mas em compensação os jornais correm o risco de enfrentar processos judiciais por parte de leitores descontentes com a edição de seus comentários ou devido à postagem de informações falsas.

Uma coisa, no entanto, parece certa. Tanto a experiência pessoal de blogueiros como o relatório Estado da Mídia Jornalística 2008 indicam que a gestão dos comentários em paginas online de informação é um tema complexo, polêmico e que ainda vai ocupar muito espaço na agenda da mídia eletrônica.

Conversa com o leitor
Os três anos de convivência com os nossos leitores mostraram que existe espaço para um relacionamento cada vez mais intenso e dinâmico entre autor e público. Nem sempre consigo contextualizar informações como gostaria e com isto acabo muitas vezes gerando percepções distorcidas, que provocaram os mais diversos tipos de comentários e críticas.
Quando a temperatura do debate subiu, foi possível descobrir que existe uma espécie de maioria silenciosa no Código que lê, mas não comenta.
Em compensação há um considerável número de leitores cuja principal preocupação é o debate, sempre que a agenda do blog inclui política e empresas jornalísticas. Estes leitores “barulhentos” são o principal termômetro da opinião pública. Sem eles, é impossível descobrir se estamos certos ou errados.
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Comentários (10) TEXTO II

Fernando Lemos, Comerciante (São Paulo/SP)
Enviado em 17/3/2008 às 7:28:49 PM

Carlos Castilho, podemos aplicar a importância do termômetro da opinião pública numa revista como a VEJA, por exemplo? Vamos imaginar um blog da Veja: o que teríamos? A mesma postura em relação ao seu painel do leitor, ou seja, só seriam publicados os comentários favoráveis ao ponto de vista da revista! Por acaso alguém já viu algum comentário ser aprovado e publicado pela VEJA que mostre apenas um minúsculo ponto positivo do governo Lula? Por isso, acreditar que blogs estejam preocupados em saber se estão certos ou errados acaba sendo uma piada enorme, me desculpe...

Luciano Prado, Advogado (Fortaleza/CE)
Enviado em 17/3/2008 às 2:42:10 PM

Cláudia Monteiro, Jornalista (Fortaleza/CE)- Deus do Céu! Você estudou jornalismo na escola do Ali Kamel? Você acha que a instituição da "moderação" é que vai proporcionar o melhor debate? A "moderação" é que vai discernir entre o que deve ou não ser publicado? Quantos anos você tem, meu caro? Você conhece a história do seu país? A "grande" imprensa, fustigada, deu uma de vítima e demandou na OEA. É um belo sintoma de que a sociedade está correta. Se alguém está precisando de moderação responsável ou pelo menos de um freio de arrumação é a “grande” imprensa que partiu para a contratação de matadores de aluguel da honra alheia. Pimenta nos olhos dos outros é refresco. A "grande" imprensa brada por liberdade de expressão, mas quer calar os leitores. Bonito! Fico com a última frase do Castilho: “Estes leitores “barulhentos” são o principal termômetro da opinião pública. Sem eles, é impossível descobrir se estamos certos ou errados”.

Luís Gustavo Nunes, Jornalista (Santarém/PA)
Enviado em 17/3/2008 às 1:57:44 PM

Muito oportuno o texto. Quando me formei, há cerca de quatro anos, meu TCC versava sobre o uso jornalístico dos blogs. Na época, os blogs eram mais vistos como diários pessoais, de acordo com o resultado da pesquisa que fiz. Hoje, parece-me que o uso jornalístico já ocupa maior espaço e destaque, o que requer mais cuidados. Inquieta-me ver blogs jornalísticos lotados de comentários inconseqüentes. Manchar a imagem alheia é fácil. Muitas pessoas usam o anonimato, pseudônimos ou nomes falsos. Os blogueiros têm de pensar em formas de controle. Quem comenta tem de assumir a responsabilidade pelo que diz ou, senão, o blogueiro. Que tal a identificação via CPF? Adequado? Exagero? Lanço a discussão.

Luciano Prado, Advogado (Fortaleza/CE)
Enviado em 17/3/2008 às 1:57:27 PM

Desconfio que boa parte dos comentários dos leitores, embora ásperos, tenham mais consistência, conteúdo fático do que os de muitos blogueiros missionários de plantão. É preciso investigar com critério essa onda de censura. Já é possível sentir esse “fenômeno”. A censura tem se voltando essencialmente para os comentários que envolvam questões políticas e ligados as críticas a imprensa. O missionário está sempre atento aos comentários que possam trazer prejuízos eleitorais e descrédito ao político ligado a seu anunciante. Àquele que paga o salário do missionário, direta ou indiretamente. Existe remédio para essa ditadura. É um novo filão que ainda não foi percebido pelos internautas.

Fábio de Oliveira Ribeiro, advogado (Osasco/SP)
Enviado em 17/3/2008 às 1:57:25 PM

Você tocou num assunto bastante interessante e delicado. Ao ler seu texto lembrei de um livro maravilhoso chamado LIVRES PARA ODIAR, de Paul Hockenos, que trata do aumento da xenofobia e dos grupos nazifascstas no leste europeu após a queda do Muro de Berlim e do fim da Guerra Fria. Logo no início do livro Hockenos afirma que "Todos os Estados modernos de hoje contém elementos do nacionalismo cívico e do étnico." Ao final lamenta o fato de que "Até certo ponto, as forças democráticas têm que se culpar pelos retrocessos que sofreram." Os bate-bocas, grosserias e demonstrações de xenofobia "on line" podem ser explicados da mesma forma. Antes do advento da Internet as pessoas comuns não tinham liberdade para se manifestar publicamente. Este era um privilégio dos jornalistas e das celebridades paparicadas pelos mesmos. Na sua vida privada certamente as pessoas se expunham tal como agora o fazem. Entretanto, o ruído ideologico que produziam não ganhava a arena pública ne chegava aos ouvidos seletivos dos jornalistas. Se partirem para a censura, os jornais e jornalistas apenas e tão somente se tornarão dispensáveis. Afinal, os ruídos produzidos pelos leitores/produtores continuarão a ganhar a arena pública através dos blogs que eles criarem (alguns dos quais podem se tornar foruns mais importantes que os websites "oficiais").

José Orair Silva, Bancário (Belo Horizonte - MG/MG)
Enviado em 17/3/2008 às 1:53:15 PM

Pior do que os comentários é a linguagem usada por alguns jornalistas. Um veterano jornalista e colunista da Folha de São Paulo usa uma linguagem de blogueiro de quinta categoria com xingamentos piores do que aqueles que encontramos nas disputas entre os mais apaixonados comentaristas dos blogs. Parei de ler a FSP. Não faz sentido comprar insultos se podemos tê-los de graça na Internet...

Cláudia Monteiro, Jornalista (Fortaleza/CE)
Enviado em 17/3/2008 às 11:29:35 AM

Já não era sem tempo uma moderação mais eficiente sobre os comentários. Enfim, poderemos daqui a algum tempo poder discernir entre uma opinião consistente ou uma agressão desinformada. É aquele velho ditado: "macaco que nunca come melado, quando come se lambuza". As pessoas ainda não sabem se comportar nos blogs. Falta informação, conteúdo, opinião e discernimento. Sobram polêmicas infrutíferas e faltam comentários que realmente acrescentem algo ao texto publicado.

João Silva, Universitário (Interior/SP)
Enviado em 17/3/2008 às 11:17:40 AM

Penso que este artigo, surgiu devido ao mais de 200 comentários de alguns artigos relacionados com as pesquisas com células-troncos embrionárias. Imagino que o OI nunca teve tamanha participação dos leitores. Isso acontece normalmente pela falta de imparcialidade do texto em destaque, pois quando se defende um ponto de vista, terá pessoas contrárias e respostas a esta posição. Quando se faz um texto que analisa os dois lados (padrão do jornalismo) sem puxar para um lado, o leitor acaba encontrando no texto seus argumentos contra e a favor (i.e. completo e justo), com isso não há tanta necessidade de comentar o assunto, pois o texto se torna claro e justo. Vejo alguns pontos. 1) O comentário deve ser moderado, principalmente quando as pessoas colocam palavrões e fazem agressões pessoais. 2) Ao mesmo tempo quando uma mensagem é recusada deve ser obrigatoriamente, notificado ao autor e o motivo da recusa. 3) Já tive texto editado com [ ] - devido a palavras restritas, no caso do corte ficou o meu comentário com outra visão. Penso que o comentário em alguns casos não deva ser editado e sim recusado imediatamente. 4) Deve lembrar nas classes que tem acesso a internet (ainda), ou seja, nem sempre os comentários servem como termômetro, para o assunto em debate.

otavio raposo, economista (rio de janeiro/RJ)
Enviado em 17/3/2008 às 10:46:32 AM

E quando são os proprietários dos blogues que estimulam a baixaria e radicalização?


Thomaz Magalhães, Jornalista (são paulo/SP)
Enviado em 17/3/2008 às 9:49:29 AM

Entre outras, mas em destaque, tenho como causa do maior controle dos comentários o fato do dono do blog ser resonsável solidário sobre crimes cometidos por comentaristas. Por outro lado, embora pareça squisito para os leitores e leigos, a imprensa é atividade de cunho privado. As publicações têm dono. Não são a casa da mãe joana.

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TEXTO III
A batalha pelo controle do The New York Times pode marcar o fim da era das grandes dinastias na imprensa americana


Postado por Carlos Castilho em 13/3/2008 às 12:29:19 PM

A família Sulzberger, dona do The New York Times (*) desde 1896, trava uma batalha de vida ou morte pelo controle do jornal diante de mais uma investida de grandes capitalistas financeiros - mais interessados em lucros do que em qualidade jornalística.

Caso os Sulzberger não consigam resistir à violenta pressão dos investidores, chegará ao fim o reinado da última família norte-americana a controlar um jornal impresso de grande circulação. Pode ser também o fim do derradeiro reduto significativo da resistência jornalística contra a o controle cada vez maior de grupos financeiros na produção informativa na mídia norte-americana.

A nova ofensiva contra o sistema de ações preferenciais que garante à família o controle de 90% das decisões no jornal, apesar de ter apenas 19% das ações, é o segundo grande confronto entre corretores de Wall Street e os Sulzberger em menos de um ano.

Os fundos Harbinger Capital Partners e Firebrand Partners, ambos formados por investidores com no mínimo um milhão de dólares em carteira, controlam 19% das ações comuns do NYT e pretendem tirar da família Sulzberger o controle da direção do jornal.

No final do ano passado, a corretora de valores Morgan Stanley tinha 7,2% das ações comuns quando deflagrou um ataque surpresa exigindo o fim do sistema acionário que garante a hegemonia dos Sulzberger, que conseguiram manter o controle do jornal.

Entre os jornalistas americanos, a nova ofensiva dos fundos de investimentos sobre a direção familiar do The New York Times é vista como uma espécie de batalha final entre os que acreditam na primazia da informação e os que vêem a imprensa apenas como um negócio.

Na verdade a questão não é tão simples e nem tão filosófica. No fundo são duas estratégias distintas para ganhar dinheiro. A família Sulzberger alega que o programa de transição para uma imprensa baseada na internet está dando resultados e que a sobrevivência do conglomerado jornalístico não está ameaçada.

Os capitalistas financeiros, por seu lado, querem mudanças mais rápidas e usam o temor de investidores sobre a falta de perspectivas claras para a rentabilidade dos jornais como um elemento para acabar com a administração familiar. Este seria o primeiro passo para um posterior desmembramento e venda de ativos materiais e não-materiais do conglomerado Times.

O medo dos investidores provocou, em 2005, a implosão do segundo maior império jornalístico dos Estados Unidos, a rede Knight Ridder, que controlava 32 jornais no país. O fundo Capital Partners Management tinha apenas 19% das ações do conglomerado, mas foi o suficiente para pôr o chefe do clã, Tony Ridder, de joelhos ante a perspectiva de uma debandada de acionistas.

A Knight Ridder vendeu seus jornais para a cadeia McClatchy, que já no ato da compra anunciou a revenda das 12 publicações menos lucrativas. Começou aí a liquidação de um império e o sucateamento de jornais diante da pressão de investidores interessados apenas em lucros de curtíssimo prazo.

O cemitério de grandes impérios jornalísticos familiares nos Estados Unidos inclui também o clã dos Chandlers, que controlava a rede Times-Mirror, e a família Bancroft, que acaba de vender o Wall Street Journal.

O mesmo capital financeiro que foi saudado como a grande esperança da imprensa nos anos 1980 e 90 tornou-se agora o seu principal algoz. Na época, os jornais navegavam em lucros obscenos, da ordem de 20% a 30% ao ano. Hoje, caíram para 7% a 8%, normais em termos capitalistas, mas aquém da expectativa dos especuladores.

A transição do foco analógico para o digital nos negócios da imprensa é um processo de maturação lenta no que se refere a faturamento. O The New York Times não está à beira da falência. Muito pelo contrário, é o mais bem-sucedido projeto de notícias online dos Estados Unidos.

Ironicamente, o destino da Dama Cinzenta (apelido dos nova-iorquinos para o NYT) está agora atado ao futuro da guerra de foice entre os que defendem a informação como um serviço público, onde o lucro é condicionado a fatores sociais, e o capital financeiro, obcecado pelo retorno monetário imediato.

(*) O texto original continha, após a palavra Times, uma vírgula que foi retirada depois da publicação. Agradeço ao leitor André Aguiar, a identificação do erro.

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