terça-feira, 6 de outubro de 2009

Para entender um pouco mais o universo dos futuros e potenciais leitores.

A Nova Capacidade de Ler e Escrever

"A revista Wired deste mês traz um artigo de Clive Thompson intitulado The New Literacy. Não consigo achar um sinônimo, vou de "A Nova Capacidade de Ler e Escrever". O artigo trata de uma pesquisa realizada por Andrea Lunsford, professora de redação e retórica na Universidade de Stanford.
Thompson retoma a questão que atormenta minha geração de professores: será que Facebook, Power-Point, Google etc. estão anunciando uma nova "era de quase analfabetismo", de iletrados em massa? O que esperar dessa "desidratação" da linguagem que a garotada pratica nos twiters, msn e sms da vida?
Lunsford estudou, entre 2001 e 2006, 14.672 amostras de textos de estudantes de Stanford. Qualquer tipo de texto: emails, exercícios em sala, postagens em blogs, chats etc. Conclusão: longe de estar matando nossa capacidade de escrita, a tecnologia está revivendo a capacidade de redigir. Trata-se, segundo Lunsford, de uma revolução litérária que não se vê desde a civilização grega.
Primeiro: os jovens escrevem hoje muito mais do que as pessoas de quaisquer das gerações anteriores. (Agora tenho pelo menos uma pesquisa empírica a sustentar meu ponto!).
Segundo: quase 40% do texto produzido por eles é produzido fora da sala de aula! Eis um dado mais que importante. Antes da Internet, a maioria dos americanos (e dos brasileiros) não escrevia quase nada fora da sala de aula. A exceção estava naqueles que exerciam profissões que exigiam a redação: advogados, jornalistas ou publicitários. A maioria saía da escola e não escrevia nem cartas. Nem telegramas.
Terceiro: a nova explosão da prosa é boa tecnicamente? Sim, responde Lunsford, porque ela tem KAIROS.
Por Kairos, os gregos entendiam "o tempo da ocasião oportuna", em oposição a chronos, o tempo sequencial. Mas, em retórica, kairos é também o princípio que governa a escolha das palavras e do estilo na argumentação, o momento de chamar a atenção do público, a forma, o conjunto de métodos necessários à persuassão. É como se, alavancados pela tecnologia, estivéssemos todos nos transformando em filósofos gregos, praticando, numa academia ou symposium ampliado, a arte da argumentação. O que nos obriga, mais uma vez, a associar a Internet ao conceito marxista de intelecto geral... mas voltemos ao artigo de Thompson.
Quarto: Lunsdorf mostra que a garotada escreve para uma audiência. Isso modifica o sentido do que constitui um "bom texto". Bom texto é aquele que organiza o debate, persuade, convence. O que nos leva ao significado da Internet para a radicalização da democracia...
Quinto: isso leva os jovens a perderem o interesse pela redação em sala de aula - para que escrever para um só indivíduo, o professor? Só para ganhar uma nota?
Sexto: isso não significa dizer que os meninos de Stanford não consigam distinguir as duas esferas. Os textos "acadêmicos" continuam sendo feitos em prosa acadêmica, careta, conforme às normas... para conseguir a nota...
Sétimo: mas o texto extra-classe leva a garotada à uma coisa fundamental - à concisão. Ah, que coisa maravilhosa! Quem é vítima daqueles chatos que não conseguem entender que esta é outra mídia sabe do que estou falando. A arte da síntese. Seja preciso, claro e breve!
Não serei aqui. Conversava outro dia com uma escritora, lá para os seus 60 e alguma coisa, sobre a onda dos "pockets". Não falo daqueles livros de bolso que minha geração conheceu. Falo dos ultra pockets de hoje, tipo "Freud em 15 minutos". Tipo "Glauber Rocha em 15 minutos de vídeo". Ou Romeu e Julieta no twiter, em 12 capítulos de 120 toques. "O horror", concordou a ilustre senhora. Mas, pensando bem. E se milhões tiverem contato com o pocket? Algumas dezenas ou centenas de milhares não terão o interesse despertado para a versão integral ou original?
Ademais, o que Balzac acharia da literatura irrealista e desintegrada do século XX? Pintamos como os medievais?
Oitavo: Lunsdorf comprova, por fim, que a garotada pode produzir textos incrivelmente longos. Sobretudo, quando trabalha ou se diverte coletivamente, nos blogs ou listas de discussão. Não resisto: de novo, o intelecto geral, a inteligência coletiva...
Fecho do artigo de Thompson:
"O que a juventude de hoje sabe é que saber para quem você está escrevendo e porque você está escrevendo pode ser o fator mais crucial de todos".

Paulo Henrique de Almeida(postado originalmente no blog do gjol www.gjol.blogspot.com)

Dentro deste contexto, vejamos o vídeo "A vision of students today", do Michael Wesch.

Nenhum comentário: