quarta-feira, 1 de outubro de 2008

A blogosfera

(da última coluna Conexao Global)

O povo internauta está cada vez mais mergulhado nos blogs, e não é de hoje. O Technorati, site que monitora o mundo blogueiro, indexou nada menos 133 milhões de blogs desde 2002 — muito embora apenas uns 10% continuem na ativa. Nos últimos quatro meses, foram criados 7,4 milhões de blogs.
Ou seja: tem para todos, sobre tudo, em quase todo canto do mundo. Do total, ainda de acordo com os números do Technorati, 79% são blogs pessoais, 46% são blogs profissionais e 12% são corporativos (e crescendo, já que as empresas estão investindo bem nessa ferramenta de comunicação).
É evidente, portanto, que essa enxurrada de sites pessoais mexeu profundamente com o jeito com que a informação trafega na internet. Para muitos, esse é o princípio da democratização plena da opinião. Um idílio. Para outros, essa onda duradoura facilita a transformação da opinião em fato, em verdade. À medida que o blogueiro ganha cartaz entre seus leitores, sua palavra começa a ter valor absoluto. E é aí que a discussão esquenta.
É bom que os blogueiros inveterados mantenham-se afastados, por exemplo, de Andrew Keen. Ele lançou ano passado “The cult of the amateur” (Ed. Doubleday) e agora está relançando a segunda edição, com algumas atualizações. Para Keen, a ferramenta blog, ao valorizar a opinião do blogueiro, cultua o amadorismo, em detrimento de vozes pretensamente mais qualificadas e bem informadas, a respeito de qualquer assunto.
O subtítulo do livro de Keen é sintomático: “Como blogs, MySpace, YouTube, e o resto da atual mídia gerada pelo usuário estão destruindo nossa economia, nossa cultura e nossos valores”. Caramba... O cara é radical, mais conservador que W. Bush. Por isso mesmo, é bom ficar de olho no que ele diz. E antes que escrevam me sentando o pau: tô transcrevendo as opiniões dele, ok? Algumas são até bem pertinentes, mas não concordo inteiramente.
O primeiro ponto a ser destacado é que Keen reconhece que o mundo blogueiro é bastante sedutor porque promete mais profundidade na informação, perspectivas globais, menos comprometimento. Só que, na verdade, o que se entrega, hoje, é a superficialidade, característica de opiniões bem pessoais a respeito do mundo.
Como vimos, aliás, 79% dos blogs tratam de assuntos pessoais. É o que Keen chama de caos da informação inútil. Ainda pior que isso seria o fato de que a ampla disponibilidade de informações no mundo online facilita o plágio. O roubo intelectual, por sua vez, também diminuiria a capacidade criativa porque, afinal, as soluções estão todas lá disponíveis, e ninguém mais precisa desenolver seu próprio raciocínio etc. etc. etc.
Os cleptomaníacos intelectuais estariam se proliferando à exaustão, para desespero dos legítimos produtores de conteúdo. Nesse ponto, Keen gentilmente se mostra preocupado com o desemprego de milhares de professores, jornalistas e outros tradicionais produtores de conteúdo. Afinal, toda essa turma — uma espécie de velha
guarda da informação — acabou perdendo seu espaço para os milhões de amadores que estão espalhando suas idéias e teses e opiniões pela rede.
A família agradece penhoradamente. Só que Keen está esquecendo que essa disseminação da opinião é um característica intrínseca ao mundo pós-internet. Não cabe mais protestar, e sim nadar rapidinho e sem fazer marola. Ossos do ofício, perrengues da vida. Por outro lado, Keen alerta para um velho perigo: o de que a informação que
está circulando em abundância talvez não seja totalmente confiável. E cita a facilidade com que qualquer usuário pode manipular os verbetes da Wikipedia, por exemplo. A web, sabemos, está cheia de casos do mesmo tipo. Um inocente vídeo no YouTube, por exemplo, talvez faça parte apenas de campanhas de marketing se utilizando da nossa distração. Ou inocência do consumidor.
A gente aqui também vive o tempo todo nessa tarefa de separar joio e trigo, mas quem não está alerta pode se dar mal.... e publicar o joio. Temos que ser céticos, diz Keen, no que talvez seja a melhor das sugestões que faz ao longo do livro. Que nem
vale a pena ser comprado. Para conferir o que ele diz, basta uma visita ao .
A propósito, existem uns dois milhões de blogs no Brasil, sendo que somente 20% desse total estão ativos. O cálculo é do Manoel Lemos, do site BlogBlogs, em entrevista ao IDGNow.

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